Texto de João Henrique Angelotto
Talassemias são anemias autossômicas recessivas causadas pela síntese deficiente de alfa globina e beta globina. Doença comum em pessoas de descendência mediterrânea, africana, do Oriente Médio, indiana, chinesa e do sudoeste asiático. A prevalência da talassemia pode variar de 0,01% em nativos do Reino Unido a 49% entre nativos de ilhas do sudoeste do Pacifico. As talassemias conseguem atingir grandes porcentagens na população porque sua forma heterozigótica parece ter vantagem sobre a malária, dando ao portador do gene mutado resistência contra a doença. Isso explica também porque algumas áreas do continente africano, onde a malária é endêmica, há um grande numero de afetados pela talassemia.
A produção inadequada de hemoglobina e o acumulo desequilibrado de globina causam o surgimento da talassemia. A principal hemoglobina produzida pelo organismo é a Hb A constituída de duas subunidades alfa e duas subunidades beta. Essas subunidades proteicas são traduzidas através de genes situados nos cromossomos 16 e 11 , respectivamente, sendo que há duas copias do gene para a subunidade alfa no cromossomo 16. Isso reflete a grande variabilidade fenotípica encontrada nas alfa talassemias. Uma mutação que afete um destes genes causa a doença, sendo que a sintomatologia pode ser explicada a partir da instabilidade da molécula de hemoglobina que foi sintetizada a partir de uma ou mais subunidades defeituosas (mutadas). A instabilidade faz com que as hemoglobinas presentes na hemácia agreguem-se e formem um precipitado que se acumula e provoca a perda da função da célula. Posteriormente esta célula sofre hemólise por lesões na membrana e é metabolizada no fígado e no baço. Essa produção inadequada leva a uma anemia microcítica e hipocrômica.
As mutações em alfa e beta globina são dividas em grupos clínicos que refletem o dano em sua produção. Para a alfa globina, existem quatro alelos do gene para esta subunidade e uma mutação que afete mais alelos tem um fenótipo mais grave, consequentemente. Para a beta globina, existem apenas dois alelos e os fenótipos pode sem divididos em beta talassemia maior e em traço da beta talassemia, sendo esta causada quando em heterozigose. Pacientes com beta talassemia maior apresentam anemia hemolítica grave quando a produção pós natal de Hb F, hemoglobina mais representativa da vida intrauterina, se reduz. A anemia e a eritropoiese ineficaz causam retardo no crescimento, icterícia, hepatoesplenomegalia (eritropoiese extra medular) e expansão da medula óssea.
A triagem inicial para o traço da alfa ou da beta talassemia é feito geralmente por determinação dos índices de eritrócitos. Descartar a deficiência nutricional de ferro, e constatar aumento no numero de hemoglobinas alternativas, como a HB A2 e a HB F (produzidas em pequenas quantidades no adulto normal) pode confirmar o diagnostico de beta talassemia, podendo ser seguido de analise de DNA para comprovação. A alfa talassemia, por sua vez, não pode ser diagnosticada a partir dos níveis de hemoglobinas alternativas, já que estas também estão prejudicadas pela mutação por conterem as subunidades alfa em sua constituição. Portanto necessita-se da analise do DNA para confirmar o diagnostico da doença. O tratamento para beta talassemia inclui transfusões de sangue, quelação de ferro e quase sempre esplenectomia. O transplante de medula óssea é a única cura disponível atualmente.
As talassemias são doenças autossômicas recessivas e portanto, para pais heterozigotos, o risco de sua prole ter o traço de alfa ou beta talassemia é de 50%, sendo que o risco de que o filho nasça com a beta talassemia maior ou doença da HB H ou ainda hidropisia fetal (mais raro) é de 25%.
Bibliografia
THOMPSON & THOMPSON - Genética Médica -7a Edição