Distúrbio autossômico recessivo em que mutações no gene CFTR (regulador da condutância transmembrana na FC) causam alterações no transporte iônico epitelial.
Tem maior incidência entre os norte-europeus, apesar de poder acometer todas as raças.
O CFTR é um canal de cloreto regulado por AMPc e regula outros canais iônicos, mantendo a hidratação das secreções dentro dos ductos vias aéreas por meio do transporte de cloreto da inibição da captação de sódio. Sua disfunção afeta diversos órgãos, especialmente os secretores de muco, como os tratos respiratórios superior e inferior, pâncreas, sistema biliar, genitália masculina, intestino e glândulas sudoríparas.
No trato respiratório, as secreções desidratadas e viscosas, por interferir com a depuração mucociliar e inibir as funções dos peptídeos antimicrobianos, criam um meio suscetível à infecção e obstruem o fluxo de ar, além de iniciar uma reação inflamatória nos primeiros meses de vida. Infecções recorrentes, inflamação e destruição tecidual provocam redução da quantidade de tecido pulmonar funcional, levando à insuficiência respiratória.
No pâncreas, há retenção de enzimas exócrinas desse órgão devido à perda de transporte de cloreto pelo CFTR no ducto pancreático, causando dano e fibrose pancreática.
A captação de sódio e de cloreto do suor, à medida que se movimenta pelo ducto pancreático, é regulada pelo CFTR, e, em sua ausência funcional, o suor apresenta níveis aumentados de cloreto de sódio, sendo esta a base da “síndrome do bebê salgado” e do teste diagnóstico (cloreto no suor).
A FC clássica manifesta-se no início da infância, mas 4% dos pacientes são diagnosticados na vida adulta.
15 a 20% dos pacientes apresentam íleo meconial ao nascimento, e os demais apresentam queixas respiratórias crônicas, como rinite, sinusite e doença pulmonar obstrutiva, ou déficit de crescimento, resultante de combinação de consumo aumentado devido às infecções pulmonares crônicas e subnutrição devido à insuficiência pancreática exócrina, ou ainda ambos, mais tarde na vida.
5 a 15% não desenvolvem insuficiência pancreática exócrina.
Mais de 95% dos pacientes do sexo masculino desenvolvem azospermia ausência bilateral congênita dos ductos deferentes.
O principal determinante de morbidade a mortalidade é o acometimento pulmonar, e a maioria dos pacientes morre de insuficiência respiratória e falência ventricular direita secundária à destruição do parênquima pulmonar e a cor pulmonale, sendo a sobrevida média atual, na América do Norte, de 33 anos. Fatores ambientais, como exposição à fumaça de cigarro, pioram significativamente a gravidade do quadro pulmonar.
O diagnóstico de FC baseia-se em critérios clínicos e na concentração de cloreto no suor, que pode trazer resultados normais em 1 a 2% dos pacientes, os quais se diagnostica com uma medida anormal da diferença de potencial transepitelial nasal.
O diagnóstico pré-natal é baseado na identificação de mutações em CFTR no DNA de tecidos fetais, como vilosidades coriônicas ou amniócitos. A eficiência da identificação normalmente erequer que as mutações responsáveis por FC em uma família já tenham sido identificadas.
O risco de um casal TR um filho com FC varia de acordo com a freqüência m seus grupos étnicos. Para casais que já possuem um filho com FC, o risco de que um novo filho também tenha a doença é de 1 em 4.
Não há tratamentos curativos para FC atualmente, mas os tratamentos sintomáticos aumentaram a longevidade média para a faixa etária de 30 a 40 anos. A terapia objetiva a depuração das secreções pulmonares, o controle da infecção pulmonar, a reposição da enzima pancreática, nutrição adequada e prevenção de obstrução intestinal. A maioria dos pacientes também necessita de orientação psicológica para lidar com a doença.
A terapia retarda a progressão da doença pulmonar, porém o único tratamento definitivo é o transplante de pulmão.
A má-absorção pode ser tratada de forma eficaz com reposição de enzima pancreática e suplementação das vitaminas lipossolúveis. Muitos pacientes também necessitam de suplementos calóricos.
Fonte: Thompson & Thompson, Genética Médica. 1ª edição.