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Estado Vegetativo Persistente
11/11/2012
Publicado por: administrador

 

 

Texto de Diego Ortega dos Santos

 

Trata-se de uma situação na qual o paciente apresenta um estado de vigília positivo, mas não está propriamente consciente, ou seja, não é capaz de perceber, apreender, criticar, interagir, fazer uso de linguagem ou de memória. Sendo o próprio termo “consciência” uma grande polêmica nos meios filosóficos, a situação desses pacientes é com certeza uma das mais delicadas em ética médica.

Fisiopatologia

No mais das vezes o estado vegetativo é a evolução infeliz de um coma, mas também pode ser causado imediatamente por traumas ou tóxicos, bem como pelo estágio terminal de algumas doenças neurológicas. Abaixo, as causas exemplificadas:

Lesões axonais difusas, presentes em casos específicos (e geralmente severos) de trauma cranioencefálico.

Necrose laminar do manto cortical, área intimamente relacionada com as funções superiores do cérebro. Pode ser fruto de lesão pós-meningite purulenta, infartos bi-hemisféricos e, mais comumente, hipóxia ou isquemia secundárias à hipoperfusão cerebral por parada cardíaca ou equivalente. Além disso, toxinas, como o monóxido de carbono, a encefalite e a hipoglicemia prolongada também são causas possíveis.

Necrose talâmica, passível de ocorrer de maneiras similares à necrose laminar, mas limitando-se na maioria das vezes à hipoperfusão.

Em todos os casos, percebe-se que o sistema de ativação reticular do tronco cerebral segue intacto, residindo todo o problema no córtex cerebral ou em suas conexões.

Manifestações clínicas

 

O paciente abre os olhos espontaneamente e mantém ciclos de sono-vigília (ainda que muito irregulares), provando que sua formação reticular é funcional.

O tronco encefálico sadio permite que o paciente tenha reflexos oculares como midríase e miose, bem como responda à manobra dos “olhos de boneca”, na qual o neurologista segura a cabeça do paciente a gira para o lado direito: o olho direito entra em adução e o esquerdo em abdução, acontecendo o equivalente para o lado oposto de modo que o paciente sempre aparenta estar olhando para a frente.

Reflexos mais elaborados, como bocejar, lacrimejar, mastigar, deglutir, segurar algo colocado nas mãos e até mesmo vocalizar algum som gutural são possíveis, assim como responder à dor adotando determinadas posturas. Em adição a esses, outro reflexo é uma verdadeira aflição para os familiares do paciente vegetativo uma vez que passam a impressão de que o ente querido está responsivo e consciente de alguma forma: os olhos caracteristicamente entram em um movimento errático e espontâneo, lento e constante, impossível de ser simulado intencionalmente ou interrompido por movimentos sacádicos, que dão a idéia de que o paciente está perscrutando o quarto, analisando calmamente o ao redor, e talvez até parando e encarando alguém, fazendo-o crer que talvez ele tenha sido reconhecido.

 

Diagnóstico

A tomografia computadorizada e a ressonância magnética podem mostrar a lesão, mas não podem dar o diagnóstico. Aqui, seja para o bem ou para o mal, a clínica é soberana e demanda que o paciente esteja totalmente inconsciente do meio através de todas as mensurações possíveis. O estado vegetativo se torna persistente se em 3 meses após doença clínica ou em 12 meses após acidente o paciente continuar sem resposta. Dar o diagnóstico de estado vegetativo permanente é difícil e talvez até mesmo pouco aconselhável, uma vez que essa conclusão não pode ser absoluta.

Prognóstico

 

O prognóstico é delicado; não se sabe até que ponto um paciente nessa situação pode melhorar, muito menos em quanto tempo isso pode ocorrer. Há poucos casos em que há melhora com a sutil retomada de algum nível de comunicação e compreensão em 3% dos pacientes após 5 anos de observação e cuidados, o que já é uma conquista ao exemplificar a volta da consciência (ou de algum grau dela). Sendo na maioria das vezes fruto de um estado comatoso, é comum presenciar outras melhoras neurológicas relativas às causas primárias, sem haver, entretanto, qualquer esboço de resposta consciente


Fonte: Cecil Medicina 23ed; ; Semiotécnica neurológica, José Geraldo Special