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Doença Inflamatória Pélvica - DIP
11/11/2012
Publicado por: administrador

Texto de Clara Mota Randal Pompeu


Doença Inflamatória Pélvica designa a síndrome clínica em que há acometimento do útero, tubas uterinas, ovários e estruturas contíguas, decorrente da ascensão de microorganismos provenientes do trato genial inferior, vagina e/ou endocérvice. Por definição, a DIP é uma infecção adquirida na comunidade, sendo a infecção mais comum em mulheres de países desenvolvidos.

É mais comum é mulheres em idade fértil (não-grávidas), tabagistas, de ração não branca, nulíparas, jovens e com história de DIP prévia. Alguns possíveis fatores de risco são número elevado de parceiros sexuais (principalmente se estes forem mais velhos), idade entre 15 e 25 anos, uso de álcool antes das relações sexuais, tentativa de suicídio anterior e história de infecções prévias. Caso os parceiros sexuais tenham quadros de uretrites sintomáticas, o risco aumenta ainda mais, sendo importante destacar que o risco de adquirir DIP é diretamente proporcional ao número de parceiros.

Alguns métodos contraceptivos podem vir a diminuir a possibilidade de adquirir a doença. Métodos de barreira, por exemplo, devido à ação física, dificultam a ascensão dos microrganismos. Anticoncepcionais orais também acabam por dificultar a infecção, uma vez que alteram o muco cervical, também dificultando a ascensão. O DIU (dispositivo intra-uterino) só aumenta o risco de DIP durante um curto período de 3 semanas após a colocação, estando este risco bastante ligado ao fato de a mulher tiver alto risco de desenvolver DSTs.

Dor pélvica crônica, infertilidade tubária, dispareunia, abscesso tubo-ovariano, piossalpinge e a formação de aderências pélvicas podem decorrer da doença, sendo as principais complicações infertilidade e gravidez ectópica.

Os principais agentes etiológicos ligados ao desenvolvimento da DIP são bactérias, como a Neisseria gonorrhoeae e a Chlamydia trachomatis, que estão relacionadas a DSTs e são as principais causas, bem como bactérias da flora vaginal endógena. Mycoplasma hominis e Ureaplasma urealyticum também estão relacionadas, Actinomices israeli tem importante papel em mulheres portadoras do DIU, porém os vírus ainda não são muito bem documentados como causadores.

Sabe-se que a patogênese da doença está na destruição da endossalpinge e produção de um exsudato purulento, o que desenvolve uma pelviperitonite. Como forma de proteção, as fímbrias começam a se fechar, o que leva à formação de uma piossalpinge e um possível abscesso ovariano, caso ovários estejam envolvidos.

O quadro clínico nem sempre é tão específico, de forma que há diversos possíveis sintomas com um espectro de manifestação também grande. Porém, caso haja suspeita de DIP, o tratamento deve ser sempre instituído, devido ao risco à saúde reprodutiva da mulher. Alguns critérios mínimos para a suspeita clínica são dor abdominal inferior ou pélvica, podendo se manifestar unilateral ou bilateralmente; dor à palpação dos anexos e dor à mobilização do colo uterino.

Existem alguns outros critérios adicionais, como a presença de tumoração pélvica, hipertermia e calafrios, secreção vaginal cervical purulenta, sintomas urinários, náuseas e vômitos, sangramento irregular e dor subcostal. Os critérios definitivos para o diagnóstico são uma laparoscopia com evidência de DIP, abscesso tubo-ovariano ou de fundo de saco de Douglas e evidência histopatológica de endometrite.

O diagnóstico, em geral, é realizado pela história e pelo exame físico. Alguns possíveis métodos auxiliares são um hemograma evidenciando leucocitose; um exame de urina que exclua infecção urinária; culturas do material da cérvice uterina; pesquisa de sífilis, clamídia e HIV; ultrassonografia pélvica ou vaginal; punção do fundo de saco vaginal; biópsia endometrial e laparoscopia.

O tratamento baseia-se na antibioticoterapia de amplo espectro, para que possa abranger a maior gama possível de microrganismos causadores. Em casos específicos, pode ser necessária intervenção cirúrgica. O tratamento hospitalar está indicado em algumas situações, como em caso de gestação, baixa adesão/tolerância à medicação, sintomas clínicos significativos, suspeita de abscesso, peritonite ou sepse.


Bibliografia

- Rotinas em Ginecologia - Fernando Freitas et al. - 6a. edição - Artmed