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Tricuríase
03/08/2015
Publicado por: Isabelle Santos Teixeira

 Tricuríase

Autor: Isabelle Teixeira

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Tricuríase é uma afecção por nematódeos de distribuição cosmopolita, que frequentemente se associa a outras verminoses, como ascaridíase, e que apresenta manifestação clínica benigna, apesar das possíveis complicações.

Epidemiologia

Em 1999, havia 17% da população mundial infectada.

A intensidade da infecção é alta em crianças com 4 a 10 anos, diminuindo em jovens e adultos.

O agravo da doença associa-se à desnutrição.

Agente etiológico

O agente etiológico dessa verminose é o Trichuris Trichiura, que se apresenta nas formas de ovo, larva (L1, L2, L3, L4) e adulto.

Os adultos medem de 3 a 5 cm de comprimento, sendo os machos menores que as fêmeas. Suas características morfológicas marcantes são a boca sem lábios, o esôfago bastante longo e delgado (2/3 do comprimento total do verme) com a presença de esticócitos (glândulas esofágicas que secretam enzimas proteolíticas) e a porção posterior alargada, sendo esta curvada ventralmente nos machos.

Já os ovos são bem peculiares ao apresentarem formato elíptico com poros salientes e transparentes nas extremidades, sendo revestidos de três camadas (lipídica externa, quitinosa intermediária e vitelínica interna).

Ciclo biológico

O ciclo é do tipo monóxeno e segue a seguinte cronologia:

Primeiramente, os ovos são expelidos juntamente com as fezes. Os ovos só se tornam infectantes, se houver desenvolvimento do embrião, o que requer o ambiente do solo (característica dos geomintos), em temperatura não extrema e em condições úmidas. Os ovos podem permanecer viáveis no ambiente por longo período.

Na continuação do ciclo, os ovos contaminam alimentos sólidos e líquidos que são ingeridos pelo homem. Assim, os ovos dentro do homem, seu único hospedeiro, eclodem no duodeno, por estímulo dos sucos gástrico e pancreático. As larvas penetram principalmente no intestino grosso (principalmente, ceco e cólon ascendente), onde perpassam por suas quatro mudas até a fase adulta. Como adultos, têm suas porções esofagianas todas internalizadas na mucosa intestinal para a alimentação de restos de enterócitos lisados por enzimas de seus esticócitos. Já suas porções posteriores, expostas, objetivam a reprodução e a deposição de ovos.

Transmissão

Oral-fecal, com destaque para a disseminação por moscas domésticas e para a geofagia.

Patogenia e Sintomatologia

A presença de vermes na mucosa intestinal causa aumento de muco, descamação do epitélio e infiltração de células mononucleares, destaque para eosinófilos, o que caracteriza um processo inflamatório, que só se torna sintomático em grande número de vermes.

Em casos de infecção intensa, os parasitas se extendem por todo o intestino seguido pela reação inflamatória, o que causa sangramento (importância para o parasitismo tissular), ulcerações e dor abdominal. Devido a isso, há o aumento da permeabilidade intestinal, que, por sua vez, ocasiona o quadro disentérico – diarréia intermitente com presença abundante de muco e, algumas vezes, sangue, dor abdominal com tenesmo. Esse quadro, somado à falta de apetite pelo aumento de TNF-a, causa prejuízo nutricional, que evolui para anemia, desnutrição e comprometimento no desenvolvimento físico e cognitivo.

Um dos sinais característicos da tricuríase grave é o prolapso retal, que evolui do tenesmo por este processo: sangramento e edema da mucosa retal ativa o reflexo de defecação, mesmo na ausência de fezes, e esse esforço contínuo resulta no prolapso retal.

Diagnóstico

O quadro clínico não é específico, logo o diagnóstico depende do laudo laboratorial, pela procura de ovos nas fezes por meio, geralmente, do método de Kato-Katz.

Profilaxia

·         Educação em saúde;

·         Construção de redes de esgoto, com tratamento e/ou fossas sépticas;

·         Tratamento de toda a população com drogas ovicidas, pelo menos, durante três anos consecutivos;

·         Proteção dos alimentos contra insetos e poeira.

Tratamento

T. trichiuraé menos susceptível à ação de anti-helmínticos que A. lumbricoides, devido à localização do verme, no intestino grosso e reto, que dificulta o acesso da medicação.

Uso de benzoilmidazóis (inibidores da tubulina-polimerase, impedindo a divisão celular): ALBENDAZOL, 400mg em dose única; ou MEBENDAZOL, 100mg, duas vezes ao dia por três dias.

 

Fonte: NEGRÃO-CORRÊA, Deborah A. Trichuris trichiura e Outros Trichuridas. In: NEVES, David P. Parasitologia Humana. 11ª ed. São Paulo