Uveíte
Autor: João Victor da Silva Soares
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A íris, a coroide e o corpo ciliar, juntos, constituem a úvea. A coroide é um dos locais mais ricamente vascularizados do nosso corpo. Assim como na retina, não há vasos linfáticos na úvea.
O termo uveíte pode ser utilizado para qualquer tipo de inflamação em um ou mais tecidos que compõem a úvea. Portanto, a irite que se desenvolve após trauma contuso no olho ou que acompanha uma úlcera de córnea é tecnicamente uma forma de uveíte. Entretanto, na prática clínica, o termo uveíte é restrito a um grupo diverso de doenças crônicas que tanto podem ser componentes de um processo sistêmico quanto estar confinadas ao olho.
A inflamação uveal pode ser manifestada principalmente no segmento anterior (p.ex. na artrite reumatoide juvenil) ou pode afetar tanto o segmento anterior quanto o posterior. A uveíte, normalmente, é acompanhada de uma patologia de retina, podendo ser causada por agentes infecciosos (p.ex. Pneumocystis carinii), por doença autoimune (oftalmia simpática) ou por origem idiopática (p.ex. sarcoidose).
Alguns sintomas relacionados à uveíte incluem hiperemia ocular, dor, fotofobia, visão turva e embaçada, e a presença de pequenos pontos escuros que se movimentam. A hiperemia ocular e a dor são sintomas comuns nos quadros de uveítes e conjuntivites. Portanto, estabelecer o diagnóstico diferencial é muito importante, visto que a uveíte, quando não tratada, pode comprometer a visão definiticamente.
A uveíte granulomatosa é uma complicação comum da sarcoidose. No segmente anterior, ela forma um exsudato que evolui para precipitados ceráticos tipo “gordura de carneiro”. No segmente posterior, o sarcoide pode envolver a coroide e a retina. Portanto, granulomas podem ser observados na coroide. Patologia de retina é caracterizada por inflamação perivascular; esta é responsável pelo conhecido sinal oftalmoscópio de “gotas de cera em vela”. Pode-se utilizar biópsia da conjuntiva para detectar inflamação granulomatosa e confirmar o diagnóstico de sarcoide ocular.
Vários processos infecciosos podem afetar a coroide ou a retina. Inflamação em um compartimento normalmente está associada a inflamações em outros compartimentos. A toxoplasmose da retina comumente é acompanhada de uveíte e até mesmo de esclerite. Pessoas portadoras de HIV podem desenvolver retinite por citomegalovírus e infecção uveal, como pneumociste ou coroidite micobacteriana.
A oftalmia simpática é um exemplo de uveíte não infecciosa limitada ao olho. Esta condição é caracterizada por inflamação granulomatosa bilateral normalmente afetando todos os componentes da úvea: a pan-uveíte. A oftalmia simpática pode complicar um ferimento penetrante no olho. No olho ferido, antígenos da retina sequestrados do sistema imune podem obter acesso aos vasos linfáticos na conjuntiva e, assim, estabelecer uma reação de hipersensibilidade tardia que afetada não apenas o olho ferido como também o olho contralateral intacto. A condição pode desenvolver-se a partir de duas semanas até vários anos após o ferimento. A enucleação de um olho cego pode proporcionar achados diagnósticos. A oftalmia simpática é tratada com a administração de agentes imunossupressores sistêmicos. Plasmócitos normalmente estão ausentes, porém podem ser identificados eosinófilos no infiltrado.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
1. KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K.; FAUSTO, Nelson; ASTER, Jon C. Robbins & Cotran Patologia – Bases Patológicas das Doenças. Editora Elsevier – Rio de Janeiro, 2010.