Histórico
Admite-se que a malária tenha se originado na África tropical onde o parasito se adaptou bem aos hospedeiros. A malária humana existe desde a mais remota antiguidade; a prova disso está evidenciada em estudos arqueológicos que demonstram a doença por meio de relatos sobre a ocorrência de febre e esplenomegalia, além de inscrições em templos egípcios descrevendo casos de febre intermitente. Hipócrates, em seus estudos, descreve quadros febris característicos de malária, além de relatos de esplenomegalia.
Em relação à descoberta do agente infeccioso da malária, coube a Laveran, em 1880, a identificação de corpos claros nos eritrócitos, a observação da formação de gametas machos e fêmeas e, posteriormente, evidenciar o fenômeno da exoflagelação. A transmissão da malária por mosquitos só foi comprovada em 1898, por Ronaldo Ross, estudando a malária em aves. Antes, porém, outros pesquisadores já admitiam a transmissão da malária por insetos hematófagos provavelmente mosquitos.
Descrição da Doença
A malária é também conhecida como impaludismo, febre intermitente, febre terçã, febre quartã, maleita e outros. É uma doença infecciosa, produzida por protozoários do gênero Plasmodium, e se caracteriza por acessos intermitentes de febre, calafrios, cefaléia e sudorese. Continua sendo uma das mais importantes doenças parasitárias e acomete anualmente milhões de pessoas, especialmente no continente africano.
Agente Etiológico
Os parasitos da malária são da família plasmodidae, gênero Plasmodium. Os plasmódios se caracterizam por apresentarem dois tipos de multiplicação: uma assexuada denominada esquizogonia, que ocorre no hospedeiro vertebrado (aves, répteis e mamíferos), e outra sexuada chamada de esporogonia, que se passa no hospedeiro invertebrado (mosquitos do gênero Anopheles).
São quatro as espécies conhecidas de plasmódios que infectam o homem:
• Plasmodium malariae (Descoberto por Laveran em 1881, Grassi e Faletti em 1890), agente da febre quartã, muito encontrada no continente africano;
• Plasmodium vivax (Descoberto por Grassi e Faletti, em 1890), responsável pela terçã benigna;
• Plasmodium falciparum (Descoberto por Welch, em 1897), responsável pela terçã maligna; e
• Plasmodium ovale (Descoberto por Stephens, em 1922), causador de uma forma de terçã benigna, não-encontrado no Brasil. Existe principalmente no continente africano.
Reservatório e vetores
O ser humano, com micro e macrogametócitos se constitui na principal fonte de infecção de importância epidemiológica. Os mosquitos transmissores da malária são insetos da ordem dos dípteros da família Culicidae e do gênero Anopheles. Este gênero compreende cerca de 400 espécies das quais apenas um número reduzido tem importância epidemiológica.
No Brasil, cinco espécies são consideradas como vetores principais. São elas: Anopheles (Nyssorynchus) darlingi, Anopheles (Nyssorynchus) aquasalis, Anopheles (Nyssorynchus) albitarsis, Anopheles (Kerteszia) cruzi e Anopheles (Kerteszia) bellator, além de outros de menor importância. O principal vetor da malária no Brasil é o Anopheles (N) darlingi. Seus criadouros frequentemente são de águas limpas de baixa correnteza e sombreadas. O Anopheles (N) aquasalis, predomina no litoral e tem preferência por criadouros de águas salobras. No Brasil, são conhecidos também por carapanã, muriçoca, mosquito-prego, suvela e pernilongo. A denominação de mosquito-prego diz respeito à forma como ele pousa na parede
As fêmeas do anofelino põem seus ovos nesses criadouros e desses ovos saem as larvas que se transformam em pupas, que, por sua vez, se transformam em adultos já dotados de asas. Portanto, o anofelino tem uma fase de vida aquática (ovos, larvas e pupas) e uma fase aérea, o alado.
Alguns fatores são necessários para que a espécie seja considerada como transmissora da malária humana, por exemplo: ser suscetível à infecção pelo plasmódio humano; ser antropofílico, ou seja, ter preferência por sangue humano; ter longevidade e alta densidade, entre outros. A maioria dos anofelinos tem hábitos crepusculares ou noturnos. Durante o dia, procuram lugares onde ficam ao abrigo da luz excessiva, do vento e dos inimigos naturais
Modo de Transmissão
A transmissão baseia-se na existência de uma fonte de infecção constituída de anofelinos infectados e de hospedeiros suscetíveis ao meio ambiente dos transmissores. A malária é transmitida à pessoa sadia por meio da picada da fêmea infectada do anofelino; outros mecanismos raros de transmissão são: transfusão sanguínea, uso de seringas
O ser humano é considerado como fonte de infecção para o mosquito enquanto houver gametócitos infectantes circulando no sangue em número sufi ciente, para que o mosquito, ao sugá-lo, possa ingerir gametócitos de ambos os sexos. As pessoas não-tratadas ou tratadas de forma inadequada podem ser fonte de infecção para o mosquito por um período que varia de um a três anos, conforme a espécie.
O mosquito, por sua vez, permanece infectante enquanto ele viver. A transmissão por transfusão sanguínea pode ocorrer enquanto permanecer no sangue circulante, formas assexuadas do parasito. O sangue armazenado pode continuar infectante por cerca de 16 dias.
Distribuição Geográfica
No Brasil, a distribuição geográfica da malária é extensa. Na Amazônia verifica-se uma concentração crescente de casos de malária nos últimos anos, passando de 94,9% (1980) para 99,7% dos casos em 2004, sendo que dos estados amazônicos, o Amazonas é o que concentra o maior número absoluto de casos de malária. Embora o país apresente uma extensa superfície de seu território onde há risco de transmissão de malária, este não é o mesmo em todas as áreas geográficas, originando níveis endêmicos diferentes na dependência da variedade e intensidade de associação dos fatores de risco. A Amazônia possui características geográficas e ecológicas altamente favoráveis à interação do parasito (plasmódio) e do mosquito vetor (anofelino), com os fatores socioeconômicos, políticos e culturais, determinando um alto nível de endemicidade.
Fonte – retirado integralmente de:
Ações de Controle da Malária: Manual para Profissionais de Saúde na AtençãoBásica - MINISTÉRIO DA SAÚDE; Secretaria de Vigilância em Saúde; Departamento de Vigilância Epidemiológica; p. 21-25