Estudos Observacionais: Delineamento de Estudo Epidemiológico

Autor(a): Lara de Holanda Jucá Silveira
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Delineamento do Estudo:

Os estudos científicos são divididos em dois tipos principais: os observacionais, nos quais o pesquisador não poderá intervir no paciente, e os experimentais, nos quais a exposição está sob o controle do pesquisador. Os estudos observacionais podem ser feitos em quatro abordagens diferentes: o Estudo de Casos, de Coorte, de Caso-Controle e Transversal.  Eles diferem principalmente pelo tempo de avaliação, abrangência e relação temporal entre o desfecho (p.e. manifestação da doença) e exposição (p.e. fator de risco).

Estudo Transversal:
O Estudo Transversal avalia ambos os desfecho e exposição simultaneamente. Tal estudo aborda um ponto histórico e analisa a situação de doença com base nesse momento histórico. É muito utilizado no levantamento de dados, para a análise da prevalência de doenças em certa região e a definição das situações de saúde pública para o planejamento de ações de promoção à saúde. Também é muito útil em estudos descritivos de manifestações clínicas. Não possui grupo comparativo. O estudo de prevalência é uma das principais utilizações deste método, sendo pouco eficiente na definição de um fator como exposição ou como resultado do desfecho. O Estudo Ecológico é um tipo de estudo transversal feito em uma comunidade, na qual objetiva-se relacionar a exposição e a condição saúde/doença na coletividade, analisando-se o fenômeno da doença no grupo. A falácia ecológica, ou viés ecológico, refere-se à associação errônea referente ao coletivo que não se reproduz ao nível individual. O estudo transversal é fácil, de baixo custo e rápido, mas pode possuir viés de seleção como desvantagem.

Estudo de Casos:
O Estudo de Casos é tipicamente descritivo e aborda as características mais importantes de um grupo de indivíduos com uma condição clínica específica, não envolvendo grupos-controle. É um estudo muito utilizado quando há uma precariedade de informações em uma determinada área de conhecimento. A etiologia, caracterização clínica de doenças, evolução da doença ou manifestações atípicas podem ser alvo de estudo a partir da análise de casos.  A geração de hipóteses é um ponto inerente ao estudo, pois o pouco conhecimento da questão abordada, a falta de grupo controle, a falta de acompanhamento temporal suficiente e o número reduzido de indivíduos no grupo estudado não permitem conclusões concretas sobre a questão estudada. Condições atípicas da doença podem inferir hipóteses que divirjam da caracterização padrão e real de patologias pouco conhecidas, assim como o estudo está sujeito a um forte grau de subjetividade. Apesar disso, a condução do estudo é fácil e de baixo custo. A partir desse método, podem se desenvolver relatos de casos, estudos de casos e série de casos, dependendo da quantidade pessoas no grupo, variando de uma a dez pessoas.   

Estudo de Caso-Controle:
O Estudo de Caso-Controle corresponde a uma análise que parte do desfecho para a investigação da causa no passado; por exemplo, ao analisar exposições e situações de risco sofridas por indivíduos, previamente selecionados, com doença cardiovascular. Deve-se obter um grupo-controle para fins de comparação com o grupo doente, sendo o desfecho ausente no grupo-controle. Após isso, relaciona-se a exposição do risco com os dois grupos e calcula-se a Odds Ratio, que estabelece uma associação entre a exposição e a presença ou não de doença. O Caso-Controle pode analisar a História Clínica, Eventos anteriores, Fatores de Exposição relatados pelo paciente, sendo muito útil na identificação de Fatores de Risco. A seleção de grupos-controle deve ser clara e obtida da população que deu origem aos casos. Os casos-controle devem possuir uma chance real de serem identificados como casos, se possivelmente desenvolverem a doença.
Na seleção de casos, a prevalência e incidência de uma doença são muito importantes para o seguimento da pesquisa, servindo o estudo transversal muitas vezes como base de estudos caso-controle e coorte.  A prevalência e incidência como importantes ferramentas de estudo, principalmente para a orientação da justificativa da relevância e objetivos de um estudo. Sendo assim, deve-se ressaltar que a prevalência não leva em consideração o tempo de manifestação clínica inicial, a duração da doença, o tratamento, a remissão espontânea e a mortalidade como fatores que possam mascarar o real número de indivíduos acometidos pela doença na população. Já a incidência considera o surgimento de novos casos, possuindo mais chance de incluir todo o conjunto de pacientes acometidos pela doença, sendo mais destacável em casos que possam envolver algum tipo de estratificação da gravidade ou evoluir a óbito, sendo a prevalência mais relacionada à sobrevivência e manifestações leves.
A exposição é definida pela duração, período e intensidade do evento e deve ocorrer antes do desfecho, mas em situações nas quais a exposição atual é um marcador de exposição prévia (p.e. carga genética, sexo, grupo sanguíneo), tal exposição deve ser considerada como possível fator de causalidade. A duração da exposição deve ser coerente com o período de latência, sendo presente antes quando em situação crônica de doença e antes/durante em situação aguda de doença, por exemplo. O Estudo de Caso-Controle possui baixo custo em comparação com os estudos de coorte, mas possui importante viés de seleção e pode ocorrer distorção da análise na investigação de causas.

Estudo de Coorte:
O Estudo de Coorte é um tipo de estudo observacional analítico, no qual se analisa a exposição e, posteriormente, o desfecho. Pode ser feita a partir da comparação de um grupo de sujeitos em grupos ou subgrupos de expostos (mais expostos) e não expostos (menos expostos) quanto à ocorrência de um ou mais desfechos. Todos os indivíduos, tanto do grupo exposto quanto do não exposto, devem estar livres do desfecho no início do estudo. A Coorte Histórica (Retrospectiva) estuda um seguimento de tempo a partir do passado para um momento histórico presente, divergindo da Coorte Contemporânea (Prospectiva), que analisa os grupos no presente, na espera pelo aparecimento de novos casos no futuro. Quando não há um grupo controle especificado, tem-se então um Estudo de Incidência, na busca por novos casos de certa doença. É um excelente estudo para teste de hipóteses e seguimento de indivíduos com exposições incomuns, mas possui alto custo e longo período de execução.  

Referências:

Tipos de estudos epidemiológicos: conceitos básicos e aplicações na área do envelhecimento; Lima-Costa, M. F.;  Barreto, S. M.; http://scielo.iec.pa.gov.br/pdf/ess/v12n4/v12n4a03.pdf

Livro: Bioestatística - Valter T. Motta; Mario B. Wagner. Editora: EDUCS.