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Hepatite B
07/10/2014
Publicado por: Lara de Holanda Jucá Silveira

Hepatite B

Autor(a): Lara de Holanda Jucá Silveira.
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Considerações Gerais:

A hepatite B é uma patologia hepática causada pelo vírus HBV, da família Hepadnaviridae. O HBV é um vírus envelopado com DNA de fita dupla. Dentre as vias de contaminação, estão as vias parenteral, sexual, por compartilhamento de agulhas e seringas, por transfusão sanguínea, por utensílios cortantes ou por exposição percutânea e cutânea, sendo a via sexual responsável por 52,7% dos casos de transmissão no Brasil, segundo dados de 2011. Estima-se que um terço da população mundial já tenha tido contato com o vírus HBV e que haja de cerca 300 a 400 milhões de portadores crônicos do vírus HBV no mundo, porém somente em 2% dos infectados há soroconversão para hepatite B. O Brasil possui baixa prevalência do vírus da hepatite B, mas estados como Amazonas, Rondônia e Acre possuem alta taxa de prevalência, ou seja, possuem mais de 8% da população infectada. A Hepatite B pode evoluir para casos de cirrose e carcinoma hepatocelular, sendo esse último a progressão comum de 50% dos casos de hepatite B.

O grau de infecção do vírus HBV é alto, podendo haver infecção viral por meio de, até mesmo, uma partícula viral. Além disso, o vírus pode sobreviver até mesmo uma semana fora do corpo, de um a três dias no plasma sanguíneo e de dez a cem dias nos hepatócitos, logo o vírus HBV possui tropismo pelas células hepáticas. A replicação viral do vírus HBV ocorre dentro dos hepatócitos, ocorrendo produção de vírions de até 10¹¹partículas por dia. O período de incubação da doença é de seis a oito semanas de incubação. Após a contaminação, o vírus HBV integra seu DNA ao material genético do hepatócito hospedeiro e, pelo auxílio da enzima transcriptase reserva, realiza a síntese de DNA fita dupla, sendo mais resistente aos antirretrovirais e clareamento.

Imunologia:

Há duas fases na evolução da doença, a fase imunoativa e a fase imunotolerante. Ambas podem se alternar dependendo do grau de resposta imune do hospedeiro. A fase imunoativa envolve a ativação das imunidades inata e adaptativa não citolítica, com a produção de TNF e IFN gama, eliminando uma importante carga viral do soro no período de incubação. Entretanto, partículas virais ficam preservadas nos hepatócitos. Após uma semana, os interferons do tipo I (alfa e beta) e II (gama) interferem na síntese viral, recrutam e ativam macrófagos, principalmente as células de Kupffer. Essas secretam IL-12 e TNF, os quais recrutam células NK e células T, portanto, ativando o reconhecimento pelo MHC-I. As células NK produzem mais TNF e IFN gama, provocando lise celular. As reações das células NK e T causam as lesões hepáticas da fase aguda e crônica da doença. A resposta imune adaptativa, através das células TCD4+ e TCD8+, contra o vírus é iniciada com o aumento da replicação viral. As células TCD4+ são ativadas por antígenos peptídicos exógenos pelas células apresentadoras de antígeno (APC) através do MHC-II. As células TCD8+ se ativam pelo MHC-I.

Na fase imunotolerante, há maior contagem de células TCD8+ e menor presença de células TCD4+ devido à menor carga viral sanguínea. A carga viral é preditiva do nível de linfócitos no sangue. Quando infectados cronicamente pelo vírus HBV na idade adulta, geralmente estes pacientes possuem um defeito na resposta imune linfocitária T específica. Quando há ativação prolongada de linfócitos T, pode ocorrer o esgotamento destas células e a deleção clonal. Consequentemente, o indivíduo evolui da fase imunotolerante para imunoativa. Além disso, células T regulatórias suprimem células T específicas efetoras, sendo a maior presença de células T regulatórias relacionadas à maior mortalidade por carcinoma hepatocelular.

Testes Sorológicos e Vacina:

Testes imunológicos de detecção do vírus HBV foram desenvolvidos com base nas proteínas virais encontradas no invólucro externo e no core/núcleo virais. O DNA de fita dupla circular do HBV possui quatro regiões codificadores de proteínas virais: S, C, P, X. O antígeno de superfície AgHBs são glicoproteínas de superfície viral do invólucro externo, chamado assim por ser codificado pela área S do DNA viral. O antígeno AgHBc é o produto do RNAm pré-genômico, presente no core de vírions de células hepáticas e codificado pela região C do DNA viral, atuando na manutenção e na função dos vírions. O antígeno AgHBe é a proteína Pré-Core e é encontrada no soro. Os dois últimos antígenos são RNA transcriptases. Sorologia negativa para AgHBe  com evidência de produção viral é indicativo de mutação pré-core. O antígeno AgHBx está relacionado à carcinogênese pela transativação de promotores celulares e virais. Tais antígenos são importantes da detecção viral e na conclusão diagnóstica, através da realização do exame sorológico.

A vacina contra o vírus HBV foi criada na década de 80, mas está disponível no SUS desde a década de 90. Em 1998, a cartela de vacinação englobava crianças, aplicando-se uma dose nas primeiras horas de vida e a segunda dose de um a seis meses de nascida. Nos anos de 2001, 2011 e 2012, a faixa etária foi estendida para 19 anos, 24 anos e 29 anos, respectivamente. O pré-natal é essencial para a ocorrência da triagem imunológica e adoção de estratégia terapêutica adequada para as crianças ao nascer pela aplicação da vacina e administração de imunoglobulinas.


Referências:
Hepatites Virais em Números, Site DST- AIDS-Hepatites Virais Ministério da Saúde. http://www.aids.gov.br/pagina/hepatites-virais-em-numeros

Taís Gardenia Santos Lemos Lopes, Maria Isabel Schinoni. Aspectos gerais da hepatite B – Artigo de Revisão. https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/5715/1/5899-16364-1-PB%5B1%5D.pdf