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Dor abdominal
07/10/2014
Publicado por: Isabelle Santos Teixeira

 Dor abdominal

Autor: Isabelle Teixeira

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Por vezes, a interpretação adequada de um quadro de dor abdominal constitui um desafio, principalmente se referir-se à dor abdominal aguda, uma vez que a terapia necessária pode demandar um procedimento urgente. Em tais casos, a avaliação deve ser precisa e rápida, o que exige anamnese e exames físicos bem executados.

Abordagem ao paciente

Nos casos de dor abdominal aguda, o diagnóstico é rápido e torna desnecessária a abordagem pausada e tranquila. O extremo dessa abordagem é o rápido encaminhamento para cirurgia, o que é sempre indicado em casos de hemorragia intra-abdominal.

Já em dores crônicas, a anamnese deve ser sistemática e cuidadosamente detalhada. Portanto, deve-se valorar:

·         Localização da dor;

·         Sequência cronológica de eventos n historia do paciente;

·         História menstrual em pacientes mulheres;

·         Uso de narcóticos.

O exame físico também se mostra importante, constituindo-se de inspeção (de fácies, posição no leito, atividade respiratória), ausculta, percussão e palpação, nessa ordem. Na palpação, destaque para a importância de exame pélvico e retal e a desnecessária execução do sinal de Blumberg.

Os exames complementares também merecem importância, destacando-se o exame de urina, radiografias simples, ultra-sonografia, TC e laparoscopia.

Alguns mecanismos da dor de origem abdominal  

Inflamação do peritônio parietal          

·         Dor bem localizada, de caráter constante e incômodo;

·         Dor agravada por compressão ou alterações na tensão do peritônio;

·         Paciente permanece quieto, preferindo evitar movimentação;

·         Presença de espasmo reflexo tônico da musculatura abdominal no segmento corporal referido.

Obstrução das vísceras ocas

·         Dor em cólica comumente periumbilical ou supraumbilical e mal localizada;

·         Paciente pode se contorcer incessantemente.

OBS: a ausência da caracterização da dor em cólica não deve induzir ao erro, pois a distensão de vísceras ocas pode gerar dor constante com exacerbações apenas eventuais.

Observe a diferenciação da dor em distensões de vísceras diferentes:

·         Intestino delgado: dor mais intensa em comparação à distensão colônica;

·         Intestino grosso: dor menos intensa, localizada frequentemente na área infraumbilical;

·         Vesícula biliar: dor no quadrante superior direito, com irradiação para a região posterior direita do tórax ou para a ponta da escápula direita;

·         Ducto colédoco: dor no epigástrio, com irradiação para a parte superior da lombar;

·         Ductos pancreáticos: dor no epigástrio, com irradiação para a parte superior da lombar, sendo frequentemente acentuada em decúbito e aliviada em posição ereta;

·         Ureter: dor no flanco, que pode se estender ao mesmo lado do abdome ou para a genitália.

OBS: É comum que tais manifestações clínicas apresentem variações.

Distúrbios vasculares

Sintomas dos casos mais freqüentes:

·         Oclusão da artéria mesentérica superior: ausência de dor à palpação e rigidez na presença de dor difusa e contínua;

·         Aneurisma da aorta abdominal: dor abdominal com irradiação para a região sacra, o flanco ou a genitália.

A intensidade da dor pode ser branda durante 2 ou 3 dias antes do aparecimento de colapso vascular ou de achados de inflamação peritonial. Esse desconforto inicial é decorrente de hiperperistalse.   

 

Parede abdominal

·         Dor constante e incômoda;

·         Presença de espasmo muscular;

·         Agravamento do desconforto com movimento, postura ereta prolongada e compressão.

Dor referida nas doenças abdominais

A decisão final da origem da dor abdominal pode requerer observação deliberada e planejada do paciente por várias horas, com a execução de repetidos exames físicos para que, dessa forma, chegue-se a um diagnóstico ou à sugestão de exames apropriados.

É importante considerarmos: em todo paciente com dor abdominal, deve-se considerar a possibilidade de doença intratorácica, sobretudo quando a dor localiza-se na porção superior do abdome.

Doenças intratorácicas que mais frequentemente simulam emergências abdominais:

·         Infarto miocárdico;

·         Infarto pulmonar;

·         Pneumonia;

·         Pericardite;

·         Doença esofágica.

Dor referida de origem torácica

Em comparação com os sinais e sintomas observados em doenças intra-abominais:

·         Presença de imobilização do hemitórax afetado;

·         Retardo respiratório e diminuição da excursão mais acentuados;

·         Diminuição do espasmo muscular abdominal aparente produzido pela dor referida durante a inspiração;

·          Ausência de acentuação da dor durante palpação;

Dor referida de origem na coluna vertebral

Habitualmente, envolve compressão ou irritação de raízes nervosas.

Em comparação com os sinais e sintomas observados em doenças intra-abominais:

·         Intensificação da dor por movimentos como tosse, espirro ou um esforço;

·         Presença de hiperestesia nos dermátomos envolvidos.

Dor referida de origem nos testículos ou vesículas seminais

Em comparação com os sinais e sintomas observados em doenças intra-abominais:

·         Acentuação da dor com mais leve compressão desses órgãos.

 

Crises abdominais metabólicas

Toda vez que a dor abdominal for obscura, deve-se considerar uma origem metabólica.

Associação de acometimentos metabólicos a dores abdominais:

·         Hiperlipidemia: acompanhada de processos abdominais como pancreatite;

·         Saturninsmo: hiperperistaltismo intenso;

·         Porfiria: hiperperistaltismo intenso;

·         Diabetes: dor inespecífica;

·         Envenenamento por aranha viúva-negra: rigidez de músculos abdominais e dorsais.

Causas neurogênicas

Doenças de origem neurológica mais comumente associadas a dores abdominais:

Herpes-zoster

·         Dor lacinante que aparece e desaparece;

·         Ausência de rigidez muscular e de acometimento da respiração;

·         Ausência de relação da dor com a ingestão de alimentos;

·         Ausência de distensão abdominal;

·         Presença de espasmo muscular intenso;

·         Hiperestemia;

·         Agravação da dor com movimento da coluna vertebral

Causalgia

·         Dor em queimação e limitada à distribuição de determinado nervo periférico;

·         Estímulos normais como toque ou mudança de temperatura causam a dor em questão;

·         Ausência de rigidez muscular e de acometimento da respiração;

·         Ausência de relação da dor com a ingestão de alimentos;

·         Presença de distensão do abdome.

 

Síndrome do intestino irritável

·         Dor abdominal com variações de tipo e localização;

·         Episódios de dor abdominal muitas vezes são desencadeados por estresse;

·         Náuseas e vômitos são raros;

·         Alteração dos hábitos alimentares.

Outras causas neurológicas:

·         Tabes dorsalis;

·         Radiculite por infecção ou por artrite;

·         Compressão medular ou de raiz nervosa.

 

Bibliografia: Harrison Medicina Interna, Vol. 1 - Fauci, Braunwald, Kasper, Hauser, Longo, Jameson, Loscalzo; Editora Mc Graw Hill; 17a edição