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Febre Chikungunya
26/07/2014
Publicado por: Luis Fernando Johnston Costa

 


Introdução

Chikungunya é um vírus transmitido por artrópodes (arbovírus), especialmente mosquitos; a febre é endêmica da África Ocidental e causa poliartralgia febril aguda e artrite. O nome chikungunya é derivado de uma língua local da Tanzânia, que significa "aqueles que se dobram" ou "andar encurvado" por causa da artralgia incapacitante causada pela doença. Vários surtos foram descritos em regiões fora da África Ocidental, como em áreas do Oceano índico, Índia, Itália e, mais recentemente, alguns casos foram notificados no Brasil (2014). O diagnóstico consiste em sorologia (anticorpo IgM anti-chikungunya, presente geralmente a partir do quinto dia, detectado pelo teste ELISA), cultura viral e técnicas moleculares, especialmente PCR.

Transmissão

Nas áreas endêmicas africanas, a transmissão do vírus Chikungunya ocorre em um ciclo envolvendo humanos, várias espécies de mosquitos Aedes que habitam floretas e vilas, e animais (primatas e outros). Na Ásia, no entanto, a maior parte das infecções é por via direta entre mosquitos e humanos susceptíveis. O vírus Chikungunya virus dissemina-se através da infecção de pessoas que visitam regiões endêmicas, e o aumento do número de surtos nos últimos anos parece estar relacionado a mutações que aumentaram a eficiência de replicação no mosquito Aedes albopictus.

Aedes aegypti — mosquito bem adaptado ao meio urbano e amplamente distribuído na região dos trópicos, preferindo hospedeiros humanos como fonte de sangue; deposita seus ovos diretamente em vasos de plantas ou em copos plásticos e outros lixos, por exemplo.

Aedes albopictus — Ae. albopictus (mosquito tigre) é eficiente na transmissão de vários arbovírus, incluindo os causadores da febre amarela, vírus do Nilo Ocidental, Encefalite Japonesa, entre outros. Ele utilizada como hospedeiro um grande número de espécies animais, o que o torna um vetor relativamente pouco eficiente de transmissão da doença. No entanto, algumas populações do mosquito desenvolveram preferência por sangue humano (antropofilia), causando surtos na América, Europa e ilhas do Pacífico.

Manifestações clínicas

Infecção aguda - sinais e sintomas começam abruptamente com febre e mal-estar após um período de incubação de dois a quatro dias.

1.      Febre - alta (40 º C), com duração habitual de três a cinco dias (variando de 1 a 10 dias).

2.      Poliartralgia - dois a cinco dias após o início da febre e geralmente envolve múltiplas articulações (geralmente 10 ou mais grupos). Articulações afetadas incluem as das mãos, pulsos, e os tornozelos. Artralgia é simétrica na maioria dos casos, envolvendo mais as articulações distais do que as articulações proximais. O envolvimento do esqueleto axial foi observado em 34 a 52 por cento dos casos. A dor pode ser intensa e incapacitante, levando à imobilização.

3.      Manifestações cutâneas – a mais comum é a erupção macular ou maculopapular (geralmente aparecendo a partir do terceiro dia após o início da doença e com duração de três a sete dias). A erupção geralmente começa nos membros e no tronco, pode envolver o rosto, e pode ser irregular ou difusa. Ilhas de pele normal podem ser vistas junto com a erupção difusa. O prurido dos pacientes em algumas séries. Lesões bolhosas também podem ser encontradas, mais frequentemente em crianças. Manifestações hemorrágicas são incomuns.

4.      Outras manifestações – dor de cabeça, mialgia e sintomas gastrointestinais, linfadenopatia periférica.

5.      Achados laboratoriais – linfopenia, trombocitopenia, enzimas hepáticas elevadas.

Infecção crônica – após a doença aguda (geralmente com duração de 7 a 10 dias), alguns doentes podem apresentar sinais e sintomas persistentes de origem reumatológica, incluindo artrite / artralgia, poliartrite edematosa dos dedos das mãos e pés, dor e rigidez matinal, e tenossinovites grave (especialmente de pulsos, mãos e tornozelos). Síndromes do túnel do carpo podem ser resultado de tenossinovite hipertrófica. Além disso, os pacientes podem relatar dor nas articulações ou ossos nos locais de lesão anterior. Ocasionalmente, articulações incomuns (como esternoclavicular ou ATM’s) estão envolvidas. Aparecimento de fenômeno de Raynaud no segundo ou terceiro mês ocorre em 20% dos casos.

Diagnósticos diferenciais

1.      Dengue – poliartralgia está presente em praticamente todos os casos de Chikungunya, mas não é típica da febre da dengue.

2.      Outros vírus – infecção primária de HIV, rubéola, sarampo, Ross River

3.      Malária

4.      Leptospirose

5.      Infecções meningocócicas

6.      Vírus de Epstein-Barr (EBV)

7.      Febre entérica

Tratamento

O tratamento da infecção por chikungunya consiste em cuidados de suporte, incluindo agentes anti-inflamatórios e agentes analgésicos. A ribavirina e o interferon-alfa parecem ter atividade in vitro contra a replicação do vírus. Sulfato de cloroquina tem sido sugerido como um possível tratamento por causa das suas propriedades anti-inflamatórias, mas não foi demonstrado ser eficaz. Para pacientes em estágio mais grave, não existem dados suficientes para uso de corticosteróides ou terapêutica antiviral.

Até o momento não há nenhuma vacina licenciada para a prevenção da infecção por chikungunya. A principal forma de prevenção consiste em minimizar a exposição mosquito; os pacientes recebendo cuidados em áreas habitadas por mosquitos competentes para transmitir vírus chikungunya devem ser levados para áreas livres de mosquito ou debaixo de um mosquiteiro para evitar a propagação.

Referências

Wilson, Mary Elizabeth; Harvard School of Public Health - Chikungunya fever. - UpToDate