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Hemorragia peri e intraventricular em neonatos
01/04/2014
Publicado por: Luis Fernando Johnston Costa
Hemorragia peri e intraventricular em neonatos
 
Autor:  Luis Fernando Johnston Costa

Introdução 
 
A hemorragia intracraniana constitui uma das mais importantes afecções perinatais, devido à sua gravidade imediata e a possíveis transtornos 
neurológicos futuros.  Exemplos significativos de complicações crônicas das hemorragias intracranianas são paralisia cerebral, déficit inte- lectual e desordem apoplética que permanece por toda a vida do paciente.
Existem quatro tipos principais de hemorragia intracraniana que podem acometer o neonato: hemorragia subdural, subaracnóidea primária, intracerebelar e peri e intraventricular.
A hemorragia intraventricular é a variedade mais comum de hemorragia intracraniana no neonato, sendo característica no recém nascido prematuro. O sítio da hemorragia é a matriz germinativa subependimária (área situada na região celular ventrolateral ao ventrículo cerebral lateral de cada lado), responsável pela proliferação neuronal e de precursores gliais no cérebro em desenvolvimento. A matriz germinativa é mais proeminente no sulco caudo- talâmico ao nível da cabeça do núcleo caudado e próximo ao forame de Monro, sendo esse o local mais comum de ocor- rência de hemorragia peri e intraventricular. Um segundo local de hemorragia é o plexo coróide, que também possui auto-regulação precária, sendo, entretanto, o local mais acometido nos recém-nascidos (RN) a termo. 

Fatores de risco

Sabe-se hoje que os principais fatores de risco são a baixa idade gestacional, peso de nascimento <1000g, sexo masculino, intubação endotraqueal e síndrome do desconforto respiratório. Foi verificado que a faixa de peso mais freqüente para o surgi- mento de hemorragia peri e intraventricular foi de 500g a 1500g, e a faixa de idade gestacional mais prevalente de 25 a 32 semanas, condizente com a literatura, já que a afecção é tão mais freqüente quanto maior a prematuridade (menor idade gestacional e peso ao nascimento).
Para lactentes com síndrome do desconforto respiratório o risco de hemorragia intraventricular é maior quando existe perturbação na pressão arterial venosa. Isto pode ocorrer facilmente na ventilação mecânica, quando existe variação no modo de respirar do recém nascido. 

Sintomas

Os recém-nascidos com hemorragia peri e intra- ventricular são na maioria das vezes assintomáticos ou apresentam um quadro clínico inespecífico, comum a outras patologias relacionadas com prematuridade.
Por outro lado, esses neonatos podem apresentar a síndrome catastrófica (hemorragias intensas com evolução em minutos ou horas), caracterizada por coma, convulsões tônicas generalizadas, pupilas não reativas, quadriparesia flácida, abaulamento da fontanela, hipotensão sistêmica e bradicardia. Ocorrem também apresentações mais leves, como a síndrome saltitante (hemorragias menores), caracterizada por hipotonia, alteração do nível de vivacidade com estu- por ou estado de irritabilidade, desvio oblíquo e vertical dos olhos e queda da atividade espontânea.

Métodos de diagnóstico

A US transfontanela é o método diagnóstico de escolha. Caso positivo, recomenda-se estudo complementar com Tomografia computadorizada (TC) de encéfalo. Em unidades neonatais recomenda-se US transfontanela em todos os RN com menos de 1500g de peso ao nascimento e de idade gestacional igual ou inferior a 34 semanas, sendo realizado com dois ou três dias de vida e repetido na 2a semana. 

Complicações

Crianças com este tipo de hemorragia no período pós- natal apresentam risco aumentado de crises convulsivas, hidrocefalia (10% a 45%) e retardo de desenvolvimento neuropsicomotor. Outra entidade relacionada com hemorragia peri e intraventricular no RN pré-termo é a leucomalácia peri- ventricular . Acredita-se que não seja decorrente da hemorragia da matriz germinativa, mas sim de causas em comum, como hipóxia e hipovolemia, com infarto nas zonas limítrofes de vascularização

Tratamento

O tratamento da hemorragia peri e intraventricular inclui a correção das doenças de base que podem estar relacionadas com o surgimento da hemorragia, bem como suporte cardiovascular, respiratório e neurológico. A intervenção farmacológica é controversa e as drogas mais utilizadas são a indometacina e a acetazolamida. O tratamento cirúrgico é limitado à ocorrência de hidrocefalia pós-hemorrágica, cujo tratamento varia de acordo com a etiologia. Punções liquóricas de repetição em crianças com hemorragia intraventricular não são recomendadas, pois há risco de infecção liquórica.
 
Fonte
 
Neves, Luiz Antônio Tavares et al. Intracranial Hemorrhages in preterm newborns. Casuistry of the Albert Sabin Hospital’s Neonatal Unit - Hemorragia Intracraniana no recém-nascido pré-termo. Casuística da UTI Neonatal do Hospital Albert Sabin.