Tópicos

< Voltar

Hepatite C
07/05/2013
Publicado por: Caio Mayrink

Autor: Viviane Teixeira

 

Introdução

A hepatite C é uma infecção sistêmica que atinge predominantemente o fígado e é causada pelo vírus HCV. Responsável por cerca de 40% das hepatites crônicas, constitui a indicação mais freqüente para transplante de fígado.

 

Agente Etiológico

É causada por um vírus, único membro do gênero Hepacivirus na família Flaviviridae, de RNA linear com um único filamento, o qual tende a circular com títulos baixos (10³ a 10⁷vírions/ml) e apresenta alto ritmo de replicação (10¹² vírions/dia) e meia-vida de 2,7h. Possui um elevado ritmo de mutações, o que interfere na imunidade humoral efetiva e faz com que a infecção pelo HCV não induza imunidade permanente contra a reinfecção por diferentes isolados virais ou até pelo mesmo isolado viral.

Apresenta 4 proteínas estruturais: Proteína core nucleocapsídeo C, 2 glicoproteínas de revestimento E1 e E2, proteína da membrana p7.

Proteínas importantes envolvidas na replicação viral: helicase NS3, protease serina NS3-NS4 e RNA polimerase RNA-dependente NS5B.

 

Transmissão

- Transfusão, drogas injetáveis, exposição ocupacional ao sangue (aumento da probabilidade de infecção nas unidades de hemodiálise).

- Transmissão sexual e perinatal são consideradas ineficientes, e a amamentação não eleva o risco de infecção pelo HCV entre uma mãe infectada e seu filho.

 

Patogenia

A contenção da infecção e patogenia da lesão hepática na Hepatite C, juntamente com a infecção de células linfóides pelo vírus, estão associadas à resposta imune de mediação celular e à elaboração de citocinas virais pelas células T.

Na Hepatite C crônica encontramos células T citolíticas intra-hepáticas, limitadas ao HLA classe 1, dirigidas ao nucleocapsídeo, ao invólucro e aos antígenos das proteínas virais não-estruturais. As respostas específicas do vírus das células T citolíticas não se relacionam com o grau de lesão hepática nem com a recuperação.

As proteínas do HCV bloqueiam as respostas da interferona tipo 1 e inibem as moléculas sinalizadoras e efetoras da interferona na cascata de sinalização dessa substância, o que interfere na imunidade inata do organismo.

Associação entre Hepatite C e um subgrupo de pacientes com hepatite auto-imune e anticporpo para o antígeno microssômico fígado-rim: reatividade cruzada entre antígenos virais ( NS3 e NS5A do HCV) e auto-antígenos do hospedeiro (citocromo P450 2D6).

 

Manifestações clínicas

O período de incubação na Hepatite C é de, em média, 7 semanas, porém seu espectro varia de 15 a 160 dias.

Antes do surgimento da icterícia clínica:

•Cerca de 1 a 2 semanas antes: anorexia, náuseas e vômitos, fadiga, mal-estar, artralgias, mialgias, cefaléia, fotofobia, faringite, tosse e coriza.

•Cerca de 1 a 5 dias antes: urina escura, fezes cor de “massa de vidraceiro” e febre pouco freqüente.

Início da icterícia clínica: ocorre diminuição dos sintomas prodrômicos constitucionais, mas alguns pacientes ainda permanecem com ligeira perda ponderal.

Fígado aumenta e se torna sensível.

Na hepatite aguda, esplenomegalia e adenopatia cervical podem ocorrer em 10 a 25% dos pacientes.

Durante a fase de recuperação, os sintomas clínicos desaparecem, apesar de o paciente ainda apresentar hepatomegalia e testes bioquímicos alterados. A recuperação completa, inclusive desses fatores, pode ser esperada 3 a 4 meses após o surgimento da icterícia em 75% dos pacientes.

 

Características laboratoriais

1. Durante a fase prodrômica e antes da elevação no nível de bilirrubina, temos aumento variável da TGO e da TGP, cujo grau não se correlaciona muito bem com maior ou menor dano à célula hepática.

2. Níveis de bilirrubina sérica sobem para 85 a 340 μmol/L (5 a 20 mg/dL), mas podem também atingir valores > 340 μmol/L (20 mg/dL) que se prolongam e persistem ao longo das fases subseqüentes da evolução da hepatite viral e estão associados normalmente a uma doença grave.

3. O tempo de protrombina é um importante dado a ser avaliado, e seu valor prolongado pode refletir defeito grave da síntese hepática e necrose hepatocelular extensa.

4. Fosfatase alcalina sérica pode ser normal ou apenas ligeiramente elevada.

5. Queda na albumina sérica é incomum na hepatite viral aguda e sem complicações.

6. Elevação leve difusa da fração de gamaglobulina, anticorpo para músculo liso, baixos títulos do fator reumatóide, anticorpo nuclear e anticorpo heterófilo podem ser encontrados durante a FASE AGUDA.

 

Diagnóstico sorológico

O indicador mais sensível de infecção pelo HCV é a presença de HCV RNA, que pode ser identificado poucos dias após o contato com o vírus, anteriormente ao surgimento do anti-HCV e do aumento das transaminases, e tende a persistir durante todo o período de infecção. Em pacientes com doença crônica, entretanto, o HCV RNA pode ser identificado apenas intermitentemente. É considerado padrão-ouro, mas é um marcador confiável para a gravidade da doença ou prognóstico, apesar de útil na previsão da resposta da terapia anti-viral.

O diagnóstico sorológico é dado pela presença no soro de anti-HCV, que pode ser identificado durante a fase inicial da atividade elevada das aminotransferases na Hepatite C.

 

Prognóstico e tratamento

A Hepatite C é menos grave durante a fase aguda do que a Hepatite B e tende a ser anictérica, além de tipicamente possuir recuperação mais rara e, como regra, cronificar. O tratamento é indicado, porém ainda não se possui um esquema ideal. Temos como um dos recomendados, o qual é superior à monoterapia com interferona: 24 semanas (2 a 3 meses após o início) de interferona pegilado de ação prolongada + análogo dos nucleosídeos ribavirina.

 

Fonte:

Harrison Medicina Interna - 17a edição

Patologia estrutural e funcional - Robbins 5a edição