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Síndromes Neuróticas
06/05/2013
Publicado por: Diego A. H. Ortega dos Santos

 

O conceito de neurose está em franco desuso. O DSM – IV não o aborda de forma alguma, falando nos seus sintomas apenas nas sessões de “transtornos menores”. O CID – 10 ainda se refere a ele, mas faz críticas que podem confundir médicos e desvalidar certas propostas. Por isso adotaremos o conceito de síndromes neuróticas, isto é, um conjunto de sintomas que podem ser atribuídos ao neurótico clássico – aquele tão estudado pela psicanálise. Isso não implica, entretanto, que se tratam de manifestações de distúrbios psiquiátricos ou orgânicos sempre que surjam. Costuma-se dizer, afinal, que o neurótico é todo aquele sujeito que não recebeu o diagnóstico de psicótico. Isso quer dizer que todo ser humano está propenso a passar por situações de angústia, o cerne da neurose, e a ter conflitos intra-psíquicos ou inter-pessoais. Expressar isso de forma relevante ou desgastante é apenas uma idiossincrasia que envolve a percepção de si mesmo e dos outros em suas relações.

Descreveremos de forma sucinta as fobias, as síndromes obsessivo-compulsivas, os quadros histéricos  e a hipocondria.


 

Tratam-se de medos exagerados diante de objetos ou situações que não justificam a intensidade da reação. O sujeito costuma saber o quão desmedido e absurdo é o seu medo. Não raro estão associados a experiências desagradáveis ou a associações simbólicas.

Uma das mais comuns e clássicas é a agorafobia, um medo um tanto inespecífico que abarca situações de solidão em grandes espaços abertos, locais com multidões ou de difícil escapatória. Acaba culminando no isolamento do indivíduo em sua residência, privando-o de experiências importantes ou novas.

A fobia simples é uma das mais exploradas pelos meios culturais. É aquela que está dirigida para um único objeto ou classe de objetos. Pode referir-se virtualmente a qualquer coisa, desde insetos e cobras a marionetes e água.

A fobia social é aquela na qual um forte sentimento de angústia surge em situações onde o contato pessoal é realizado em escalas grandes ou importantes. Falar em público, ser avaliado, participar de uma competição ou mesmo conversar com alguém “superior” tornam-se desafios.

Dividem-se em síndromes obsessivas e em síndromes compulsivas. No mais das vezes, entretanto, notam-se quadros mistos, geralmente com relações desencadeantes.

Costuma surgir na forma de um pensamento, idéia ou imagem intromissora:  por mais que o indivíduo não queira dar atenção a determinada coisa, ela “invade” a sua consciência. Trata-se, por exemplo, de pensar na morte iminente de um familiar ou de ter esquecido algo importante. Isso é a obsessão. Para lidar com ela, o sujeito adota rituais, sejam eles mentais ou físicos. Geralmente possuem alguma relação com o pensamento invasor, mas muitas vezes estão atuando em uma lógica absolutamente insólita, mágica. É rezar um determinado número de vezes, ou seguir rigorosamente superstições, ou lavar as mãos em determinado horário – essas atitudes podem causar estranheza ou problemas cotidianos para essas pessoas. Isso são as compulsões. Tanto a obsessão quanto a compulsão são reconhecidas pelo sujeito como impróprias e absurdas, mas possuem um caráter irremediável, daí a origem da angústia.

O comportamento histérico é aquele de um sujeito teatral, infantil, sedutor ou manipulativo. Surge de uma necessidade poderosa de atenção e contato que, entretanto, não evolui: são pessoas que se relacionam de forma superficial, rápida e inautêntica. Podemos dividir os quadros histéricos em histeria de conversão e em transtorno dissociativo.

A histeria de conversão caracteriza-se por sintomas físicos bastante variados (cegueira, paralisia, afonia, analgesia) com início súbito e inexplicável. Curiosamente, os pacientes reagem a eles de forma neutra – “a bela indiferença dos histéricos”. Se tais sintomas têm origem no inconsciente ou em algum ardil para chamar atenção não nos cabe discutir aqui. Cabe apenas dizer que são importantes diagnósticos diferencias na prática clínica.

Um diagnóstico diferencial ainda mais relevante é necessário nos casos de transtorno dissociativo. Por se manifestarem através de alterações no estado da consciência, precisam ser bem separados de quadros epilépticos ou de outras síndromes nervosas. As alterações mais comuns são as pseudo-crises epilépticas, a amnésia histérica, o rebaixamento da consciência e as ilusões.

Encarados com muita impaciência e desgosto pela imensa maioria dos profissionais da saúde, o sujeito hipocondríaco é aquele tomado pelo medo de ter alguma doença grave e pela necessidade de realizar exames e consultas que as afastem. E por mais que rejeitem a idéia de que seu sofrimento seja de origem psicológica e que cheguem a duvidar exageradamente de exames e diagnósticos, esses pacientes não são delirantes – alguns chegam até a admitir o quão exagerada é essa preocupação. Note-se que hipocondria não é o mesmo que somatização: este é bem mais complexo, podendo envolver tanto simuladores que almejam algum ganho secundário quanto doenças de base fisiológica ampliadas por instâncias neuro-psíquicas ainda em descobrimento.

 


 

Fonte: Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais, Paulo Dalgalarrondo, 2ed