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Artrite Juvenil Idiopática
06/02/2013
Publicado por: administrador

 

Artrite Juvenil Idiopática

Texto de Diego Ortega dos Santos

É uma alcunha para as artrites que se desenvolvem antes dos 16 anos, formando um grupo de doenças com incidência relativamente baixa (90 em cada 100.000 crianças), sendo, entretanto, um dos distúrbios do tecido conjuntivo mais comum em crianças. Paralelamente, tem um potencial incapacitante que perfaz 10% dos casos responsáveis por perdas funcionais importantes nessa faixa etária.


 

Etiologia e Patologia

Como o próprio nome não deixa esconder, trata-se de um distúrbio de origem não muito bem compreendida. As hipóteses mais aceitas sugestionam uma base auto-imune, mas ainda assim sem explicações para os mecanismos patológicos ou então para a incidência abaixo dos 16 anos, típica da doença. O caráter genético da doença é apenas uma das vertentes do que se considera uma doença multifatorial, sendo os casos em que há dois irmãos acometidos muito raros. As outras causas seriam ambientais, provavelmente no que diz respeito a infecções.


 

Características

A membrana sinovial do paciente aumenta em espessura e fica repleta de células inflamatórias (salientando o caráter auto-imune do distúrbio), assim como o líquido sinovial aumenta em volume. Isso gera dor, rigidez nas articulações e inchaço. Quando não tratada adequadamente, a doença pode resultar em comprometimento de ossos e cartilagem subjacentes e em deformidades musculares por manter por muito tempo uma posição antálgica, rapidamente adotada pelos pacientes para aliviar a dor. Difere das artrites adultas nos seguintes aspectos:

- É mais comum acometer apenas uma articulação

- Manifestações sistêmicas surgem com mais freqüência

- Nódulos e fatores reumatóides não raro estão ausentes

- É mais encontrada em articulações grandes (joelho, cotovelo etc)

- Geralmente há soropositividade para anticorpo antinuclear (ANA)


 

Manifestações Clínicas

Há basicamente três tipos diferentes de Artrite Juvenil Idiopática (AJI):

AJI Sistêmica: corresponde a apenas 10% dos casos de AJI e também às maiores complicações da doença, caracterizando-se por distúrbios além da artrite (que, nesse caso, costuma acometer mais de uma cartilagem). Dentre eles, a febre alta (em torno de 39 graus) e intermitente é o mais marcante. Há também manchas rosadas ou avermelhadas em toda a pele que aparentam ser mais visíveis no pico da febre. Pericardite, pleurite e hepatoesplenomegalia são sintomas geralmente mais avançados.

AJI Poliarticular: é quando surgem 5 ou mais articulações comprometidas nos primeiros 6 meses da doença sem que haja acometimento sistêmico. Caso esteja presente o Fator Reumatóide (FR), trata-se de um subtipo de AJI extremamente raro e essencialmente equivalente à Artrite Reumatóide com FR positivo em adultos. Caso ausente, trata-se de um subtipo correspondente a 20% dos casos de AJI. É uma variação complexa e resultante de várias doenças, sendo cada caso muito particular em sintomas e em prognósticos.

AJI Oligoarticular: afeta até 4 articulações nos primeiros 6 meses da doença, muitas vezes de forma assimétrica e naquelas de grande porte. Costuma acometer mais crianças do sexo feminino de até 6 anos de idade, equivalendo à 50% dos casos de AJI. O prognóstico costuma ser bom nesses casos, sendo a maior dificuldade identificar uma possível uveíte anterior crônica (possível nesse tipo de AJI) para prevenir disfunções oculares que podem culminar na cegueira.


 

Diagnóstico e Tratamento

O diagnóstico é simples e basicamente clínico: caso o paciente tenha menos de 16 anos, artrite persistente nas últimas 6 semanas e não haja qualquer outro motivo para tal (como infecções bacterianas, por tuberculose etc), pode-se efetuar o diagnóstico e iniciar o tratamento. Exames para FR e ANA positivos também são úteis, bem como exames oftalmológicos para identificar uveíte. O tratamento é sintomático; a doença em si só tem cura espontânea que ocorre nos prazos e maneiras mais imprevisíveis. Assim, anti-inflamatórios, corticosteróides e uma série de outros tipos de drogas (como injeções articulares, drogas de segunda linha e outras) podem ser usadas de acordo com o curso da doença e com a opinião da equipe médica. Contudo, um fator tido como essencial na recuperação e na manutenção da saúde física e psicossocial do paciente é a fisioterapia, que deve ser iniciada rapidamente e mantida o tempo que for necessário para manter alguma mobilidade, bem como força muscular. Por fim, a cirurgia e implementação de próteses também são possibilidades de tratamento.


Bibliografia: Bases Patológicas das Doenças, 8ed, Robbins & Cotran; Pediatric Rheumatology International Trials Organisation (www.printo.it)