Texto de Daniel Machado
Molusco Contagioso (MC) é uma infecção viral epidérmica autolimitada.
É transmitida pelo vírus do molusco contagioso, pertencente a família dos poxvírus, tendo tal agente quatro subtipos: I, II, III e IV. Apresenta homologia de 30% com o vírus da varíola. O vírus ainda não pôde ser isolado em cultura nem ser diferenciado de outros poxvírus através de microscopia eletrônica. Em muitos indivíduos saudáveis, a epiderme e o infundíbuo do folículo piloso estão colonizados pelo VMC.
Quando a idade e sexo, os mais afetados são crianças e adultos sexualmente ativos, sendo mais comuns nos dois grupos indivíduos do sexo masculino. Alguns fatores de risco no desenvolvimento dessa doença são indivíduos HIV-positivos com contagens baixas de células T CD4+, podendo desenvolver centenas de lesões pequenas ou moluscos gigantes na face. A transmissão ocorre por meio do contato pele a pele. Em crianças, as lesões geralmente ocorrem em áreas expostas da pele e regridem espontaneamente, sendo a transmissão inter-crianças geralmente baixa. Em adultos sexualmente ativos, as lesões ocorrem mais comumente na região genital e também regridem espontaneamente, sendo o vírus transmitido por meio de contato sexual. Em pacientes portadores de AIDS e receptores de transplantes de órgãos, as lesões ocorrem mais comumente na face e são disseminadas pelo ato de barbear-se; no caso de AIDS, quando há resposta a TAR, as lesões geralmente desaparecem, mas quando não há tratamento eficaz, os moluscos crescem e não há regressão espontânea.
Muitos adultos provavelmente são portadores subclínicos do VMC. Singular entre os poxvírus, a infecção pelo VMC resulta em desenvolvimento de tumores epidérmicos; outros poxvírus causam lesão pustulosa necrótica. A ruptura e liberação das células repletas de vírus contagiosos ocorrem na umbilicação ou na cratera da lesão. As células epidérmicas contêm corpúsculos de inclusão intracitoplasmáticos volumosos, isto é, corpúsculos do molusco, que se evidenciam por estruturas eosinofílicas ovoides isoladas nas células mais inferiores do estrato de Malpighi. Os corpúsculos do molusco contêm grandes quantidades de vírions em processo de maturação. A epiderme prolifera em direção da derme; a infecção também acomote o epitélio e o folículo.
Nos hospedeiros imunologicamente preservados, os moluscos podem persistir por até 6 meses e, em seguida, regridir espontaneamente. Nos pacientes com HIV-positivos/AIDS sem TAR eficaz, os moluscos persistem e proliferam, mesmo depois do tratamento local e agressivo. Geralmente não há sintomas constitucionais encontradas em outras infecções como febre, perda de peso, fadiga nem dor devido as lesões primárias. Pode ocorrer, dependendo da quantidade de lesões, desfiguração estética. Lesões dolorosas podem ocorrer quando há infecção secundária. As lesões elementares causadas pelo VMC são pápulas (1 a 2 mm) e nódulos (5 a 10 mm), raramente gigantes. Essas lesões são branco-peroladas ou da cor da pele, redondas ou ovais, hemisféricas e umbilicadas. Podem ocorrer lesão única isolada, várias lesões dispersas e bem demarcadas ou placas confluentes em mosaico. A maioria dos moluscos maiores tem um tampão ceratótico central, que forma uma depressão ou umbilicação central na lesão e é observado mais facilmente depois de congelamento com nitrogênio líquido. A autoinoculação é evidente porque os moluscos aglomeram-se em determinados locais como nas axilas. A resposta imunológica do hospedeiro ao antígeno viral resulta em um halo inflamatório ao redor do MC, ou seja, “dermatite do MC’’, que geralmente prenuncia a regressão espontânea; pode haver purulência. Em indivíduos da pele escura, pode ocorrer hiperpigmentação pós-inflamatória significativa depois do tratamento ou da regressão espontânea. Qualquer área pode ser infectada, principalmente axilas, fossas antecubitais e poplíteas e pregas crurais. Nas crianças, as lesões genitais ocorrem principalmente por autoinoculação. Nos pacientes com dermatite atópica, o MS pode ser disseminado. Em adultos com MC, as regiões mais afetadas são: virilhas, genitália, coxas e região inferior do abdome. Várias lesões do MC na face sugerem infecção pelo HIV. O MC pode ocorrer na conjuntiva e causar conjuntivite unilateral.
- Vários moluscos pequenos: verrugas planas, condiloma acuminado, siringoma e hiperplasia sebácea.
- Molusco único: ceratoacantoma, carcinoma espinocelular, carcinoma basocelular e cisto de inclusão epidérmica.
- Vários moluscos faciais em paciente HIV-positivo: infecção fúngica invasiva disseminada como criptococose, histoplasmose, coccidioidomicose, etc.
Esfregaço do tampão ceratótico: a microscopia direta do núcleo central semissólido corado por Giemsa mostra os “corpúsculos do molusco’’ (corpúsculos de inclusão).
Geralmente firmado com base nas manifestações clínicas. Deve-se fazer biópsia das lesões dos pacientes HIV-positivos se o diagnóstico diferencial incluir infecções fúngicas invasivas disseminadas.
Em indivíduos saudáveis, o MC regride espontaneamente sem deixar cicatrizes, mas into pode demorar até 2 anos. Em pacientes com HIV/AIDS sem TAR eficaz, os moluscos geralmente progridem, mesmo com tratamentos agressivos, causando desfiguração estética significativa, principalmente quandoas lesões são faciais. Em pacientes com HIV/AIDS tratados eficazmente com TAR, os moluscos não se desenvolvem ou regridem depois de alguns meses. Em geral a residiva dos moluscos sugere falência do TAR.
Primeiramente deve-se realizar a profilaxia das seguintes formas: evitar contato pele a pele com indivíduos portadores de MC e em pacientes portadores de HIV/AIDS com moluscos na região da barba devem ser aconselhados a barbear-se com menor frequência ou deixar a barba crescer. O tratamento das lesões pode ser feito por meio de creme de imiquimode a 5% aplicado nas lesões bem como procedimentos ambulatoriais podem também ser utilizados como curetagem, criocirurgia e eletrodissecção.
- Dermatologia de Fitzpatrick: atlas e texto/ Klauss Wolf, Richard Allen Johnson; tradução: Carlos Henrique de Araújo Consedey, Denissa Costa Rodrigues; revisão técnica: Tânia Ludmila de Assis – 6ª Ed. – Porto Alegre : AMGH, 2011. - Cecil Medicine, 23ª Ed., tradução autorizada do inglês da edição publicada por Saunders – um selo Elsevier.