Texto de Geysa Câmara
O pericárdio normal é um saco de duas camadas: o pericárdio visceral e o parietal, que estão separados por pequena quantidade de líquido, um ultrafiltrado plasmático. O pericárdio tem uma função protetora do coração: reduz o atrito do coração com estuturas adjacentes, promove a interdependência entre as câmaras cardíacas, protege-as contra uma sobrecarga excessiva volumétrica , funciona como barreira física contra infecções e mantém o coração em sua posição anatômica.
Inegavelmente, a patologia mais comum que pode acometer o pericárdio é a pericardite aguda. A inflamação pericárdica é, em geral, secundária a várias doenças cardíacas, distúrbios torácicos ou sistêmicos, metástases de neoplasias ou procedimentos cirúgicos realizados no coração Pode-se dizer que uma pericardite é aguda quando ela dura menos de 6 semanas e esta pode ser do tipo serosa, fibrinosa/serofibrinosa ou purulenta.
Qualquer que seja a causa, há uma reação inflamatória nas superfícies epicárdicas e pericárdicas com escasso número de polimorfonucleares, linfócitos e macrófagos. O volume de líquido geralmente não é grande e acumula-se lentamente. A dilatação e o aumento da permeabilidade dos vasos devido a inflamação acarretam um acúmulo de líquido de densidade elevada e rico em proteínas. Característica de doenças não-infecciosas(Lupus, Febre Reumática...)
São os tipos mais frequentes de pericardites. A superfície do pericárdio está seca e possui uma aspereza granular fina. Na pericardite serofibrinosa, um processo inflamatório mais intenso produz quantidade maior de um líquido mais espesso e com frequencia há fibrina.O desenvolvimento de um atrito pericárdico sonoro é a característica mais evidente de pericardite fibrinosa. Têm como principais causas IAM e traumas.
O exsudato varia de um pus aguado a cremoso, com volume de até 500ml. As superfícies serosas estão avermelhadas, granulares e cobertas com exsudato. Em virtude da grande intensidade da resposta inflamatória, há frequentemente como consequencia grave uma pericardite constrictiva. essa pericardite quase invariavelmente indica invasão do espaço pericárdico por microorganismos infectantes.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
A dor torácica é um sintoma importante, mas não invariável, em diversas formas de pericardite aguda. Essa dor freqüentemente é intensa, de localização retroesternal e precordial, sendo referida para ombros, pescoço e braço esquerdo. Em muitos casos, essa dor é pleurítica, em conseqüencia da inflamação pleural associada. Comumente é confundida com a dor do IAM. Tipicamente essa dor é aliviada com a posição sentada e inclinada para frente, e agravada pelo decúbito dorsal. O paciente também pode apresentar dispnéia, geralmente devido a necessidade de respirar superficialmente para evitar a dor. A presença de sintomas semelhantes ao de um quadro gripal sugere que a pericardite possa ter uma causa viral. Ao exame físico, o ruído de atrito pericárdico é audível em cerca de 85% dos pacientes, sendo descrito como áspero ou rangente. É audúvel mais freqüentemente na expiração final com o paciente inclinado para frente. O ruído muitas vezes é inconstante, podendo aparecer e reaparecer de um dia para o outro.
Não existe um padrão-ouro para diagnóstico de pericardite aguda. ELETROCARDIOGRAMA: Pode haver 4 fases evolutivas:Fase 1- No momento da dor: supradesnível de ST em várias derivações e onda T positiva apiculada. Fase 2- Dias depois: Volta do ST à linha de base, com onda T aplainada. Fase 3 - Uma a duas semanas depois: Inversão da onda T. Fase 4 - Semanas ou Meses depois: Normalização do ECG. As quatro fases estão presentes em 50% dos casos. ECOCARDIOGRAMA: O principal achado nesse exame é o derrame pericárdico. A ausência do derrame no ecocardiograma não exclui o diagnóstico de pericardite aguda. O Raio X de tórax geralmente é normal, a não ser que o derrame pericárdico seja de grande extensão.
A história natural da doença da pericardite viral e idiopática é geralmente benigna, havendo melhora dos sintomas entre 2 e 6 semanas. Pode ocorrer tamponamento cardíaco em 15% dos casos de pericardite aguda. É mais comum na pericardite piogênica. A pericardite recorrente é a complicação mais comum. Em 20-30% dos casos ,o paciente apresenta recorrência dos sintomas. A pericardite contritiva, no caso da pericardite viral e idiopática, é uma complicação rara.
A princípio todos os pacientes com pericardite aguda devem ser internados para observação nos primeiros dias. O repouso é benéfico para a recuperação. Deve-se investigar se há sinais de tamponamento. A medicação deve ser um AINE como o AAS ou indometacina. Nos casos específicos, como pericardite piogênica e urêmica, o tratamento deve ser orientado à causa básica. O uso de anticoagulantes está contra-indicado devido ao risco de hemopericárdio com conseqüente tamponamento cardíaco.
FONTE: Bases Patológicas das doenças - Robbins e Cotran/ Medicina Interna - Harrison