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Leishmaniose Visceral
13/11/2012
Publicado por: administrador

 

''Geysa Câmara''

A Leishmaniose Visceral é, primariamente, uma zoonose que afeta outros animais além do homem. Sua transmissão, inicialmente silvestre ou concentrada em pequenas localidades rurais, já está ocorrendo em centros urbanos de médio porte, em área domiciliar ou peri-domiciliar. Ela se caracteriza clinicamente por manisfestar-se com febre irregular, esplenomegalia, anemia e se não tratada pode levar à caquexia e à morte.
 
AGENTE ETIOLÓGICO
 
 
É causada por flagelados do complexo “Leishmania donovani”. Estes protozoários estão adaptados a viver em temperaturas em torno de 37 graus, fato que lhes permite invadir órgãos profundos, depois de terem invadido áreas cutâneas. As espécies desse complexo vivem como amastigotas no interior de células do sistema fagocítico mononuclear, principalmente nas células de Kupffer do fígado e células reticulares e macrófagos do baço, medula óssea e gânglios linfáticos. Dentro das células parasitadas, multiplicam-se por divisão binária, até que o acúmulo grande de amastigotas acabe por destruir cada célula hospedeira, permitindo aos parasitos irem ao meio intersticial, ao plasma, etc.  Daí podem ser fagocitados por outros macrófagos e recomeçar o ciclo.
 
AGENTE TRANSMISSOR
 
 
Nas Américas, uma só espécie de flebotomíneo tem importância como vetora do calazar; é a Lutzomya longipalpis. Na Europa, Ásia e África, os transmissores pertencem ao gênero Phlebotomus. Este inseto costuma picar do final da tarde até a madrugada. E tem o hábito de viver no peri-domicílio, ou seja, vive mais em volta da casa. Somente a fêmea do mosquito pica, pois precisa se alimentar de sangue para o desenvolvimento dos ovos.
Os flebotomíneos infectam novos hospedeiros vertebrados mediante inoculação pela picada. A resposta inicial do homem à infecção, no local da picada, é um processo inflamatório com formação de pápula ou nódulo de base dura. Ela pode evoluir para cura ou regredir depois de uma disseminação do parasito. Nem todas as infecções desenvolvem um quadro do tipo visceral , podendo haver uma evolução benigna, assistomática e com cura espontânea. As infecções benignas conferem imunidade.
 
RESERVATÓRIO
 
 
No Brasil, os mais importantes reservatórios são o cão (Canis familiaris), e a raposa (Dusycion vetulus), que agem como mantenedores do ciclo da doença. O homem também pode ser fonte de infecção, principalmente quando o Calazar incide sob a forma de epidemia. Os cães infectados podem ou não desenvolver quadro clínico da doença, cujos sinais são: emagrecimento, eriçamento e queda de pêlos, nódulos ou ulcerações (mais freqüentes nos bordos das orelhas), hemorragias intestinais, paralisia de membros posteriores, ceratite com cegueira e caquexia. Pode evoluir para morte, nos casos mais graves. O reconhecimento das manifestações clínicas destes reservatórios é importante para adoção de medidas de controle da doença. Os canídeos apresentam intenso parasitismo cutâneo, o que permite uma fácil infecção do mosquito, e, por este fato, são os mais importantes elos na manutenção da cadeia epidemiológica
 
 
PATOLOGIA
 
 
A presença de leishmanias no interior de células do sistema fagocitico mononuclear de alguns órgãos não se acompanha, em geral, de alterações patológicas importantes. Porém, a hipertrofia e hiperplasia do sistema macrofágico das vísceras é a razão da esplenomegalia, da hepatomegalia, bem como alterações da medula óssea.
No baço: excesso de macrófagos chegam a comprimir folículos linfóides e constrangem a circulação de capilares, provocando grande congestão e podendo haver áreas de infarte.
No fígado: hipertrofia considerável das células de Kupffer aglomerando-se em torno dos sinusóides ou do espaço porta.
Na medula óssea: macrófagos parasitados substituem pouco a pouco o tecido hematopoiético, daí podendo advir a anemia.
Com o crescimento da população de leishmanias, passa a haver massa enorme de material antigênico que irá promover tolerânicia imunológica, por excesso de antígeno. A doença então assume um caráter agudo. Há também imunodepressão, ficando reduzida a capacidade de resposta a outros antígenos e de resistência a outras infecções.
Nos casos crônicos instala-se uma fibrose no baço, que aos poucos conduz a uma completa mudança na sua arquitetura, e uma fibrose no fígado que acompanha-se dem hipertensão portal e ascite, dentre outras manifestações.
 
PERÍODO DE INCUBAÇÃO
 
 
É muito variável, porém habitualmente é cerca de 2-4 meses.
 
FASE INICIAL DA DOENÇA
 
 
Na maioria dos casos, a leishmaniose visceral começa de modo gradual, usualmente com adinamia, perda de apetite, palidez, ligeiro aumento do baço e febrícolas; ou de forma abrupta, com febre alta(>39 graus), contínua ou não, lembrando infecções intestinais.
 
DECURSO DA DOENÇA
 
 
A febre é o sintoma mais notável, sendo do tipo irregular ou remitente. Em muitos casos, a curva febril mostra um duplo Ascenso diário. 
A esplenomegalia é a segunda manifestação em importância. O volume do baço aumenta com certa rapidez. Sua consistência é dura, mesmo sendo indolor à palpação, causa uma sensação de dor surda pela distenção da cápsula.
O aumento do fígado costuma ser menor que o do baço, e há quase sempre aumento generalizado dos gânglios linfáticos.
Com o progredir da doença, acentua-se a anemia e há marcada tendência às hemorragias. Epistaxes e sangramento gengivais são freqüentes.
Aparecem comumente alterações respiratórias, como tosse seca ou com expectoração. As alterações no apetite e o emagrecimento tendem a conduzir a um estado de desnutrição grave. A evolução pode ser rápida podendo o paciente evoluir para óbito dentro de semanas ou meses; ou pode assumir um caráter crônico.
 
FORMAS CLÍNICAS
 
 
Assintomáticas: Evolução silenciosa, sintomas discretos.
Formas agudas: Evolução rápida. Febre alta e contínua, com pronunciada anemia e aumento relativamente pequeno do baço.
Formas crônicas: Evolução lenta(pode durar anos), com fases de remissão e recaídas, alternando-se por períodos de semanas ou meses. É encontrada nas crianças maiores e nos adultos. 
Leishmaniose dérmica pós-calazar: Em uma pequena proporção de casos, pacientes que não receberam tratamento, ou mesmo, alguns dos que foram tratados, passam a apresentar leishmânides, algum tempo depois do tratamento. Estas lesões aparecem na pele do rosto ou outras partes do corpo, sob a forma de pequenos nódulos, de máculas eritematosas contendo grande quantidade de leishmanias. Elas constituem manifestações secundárias da infecção por L.donovani. 
  
Referências Bibliográficas:
 
Bases da parasitologia médica – Luís Rey
www.insecta.ufv.br/Entomologia''